Depressão, um labirinto
com muitas saídas!
Jovem senhora X me
procurou queixando-se sofrer de depressão. Adiantou-se a qualquer pergunta de
minha parte fechando um drástico diagnóstico em poucos minutos. Via-se em um
enredo no qual se tornara uma bela peça de decoração que a todos agradava, mas sentia-se
jogada em um canto escuro, sozinha. Após anos e anos de dedicação a família,
todos diziam amá-la, porém na verdade a seu modo de ver, só a procuravam se dela precisassem.
Passara cada vez mais a tratar de enfeitar-se buscando manter-se bela para
continuar feliz. Sentia-se jovem no intimo, porém temia o ridículo a cada
iniciativa ou sonho que lhe ocorresse. Examinava cada expressão, sorriso, cada
palavra dirigida a ela por quem quer que fosse. Temia ficar só, Afinal quem
gostaria dela agora que sua beleza, saúde e importância apagava-se a cada
pequena ruga nova que aparecia. Achava que de novo em sua vida nada de bom
viria mais. Sentia rompantes de raiva até contra seus cremes e perfumes. Queria
sumir, fugir de tudo e de todos, descobrira que vivia em um mundo ingrato, nada
mais lhe restava além de preocupação, medo. Muitas dores no corpo e na alma.
A atual maneira indicada
para se viver bem nos está sendo apresentada através de uma fórmula
aparentemente muito fácil. Tudo é possível, só depende de realmente querermos.
Afinal: querer é poder! Chegando a nos proporcionar episódios em que sentimos tremendamente
realizados, felizes, mas cada vez por menos tempo. Buscamos de todas as formas lutar
para satisfazer nossas demandas de prazer. Somos assim solicitados a participar
de uma enlouquecida maratona na qual não podemos nos alegrar com uma
participação honrosa, sequer desfrutar a trajetória. Exigem somente vitórias e
mais vitórias, prazeres e mais prazeres, todo viço, todas as forças nos são
extraídas. Caímos cegamente em um labirinto infernal, quando apenas bem intencionados. Afinal merecemos, é um simples prêmio por tanto
esforço.
Casos como de Senhora X
são cada vez mais comuns. Muitos ainda relutam em buscar ajuda profissional
adequada. Tentando resolver sozinhos ou
aceitando a participação de curiosos, que embora muitas vezes bem intencionados colaboraram para tornar graves,
alguns episódios resolvíveis até mesmo
sem o uso de medicamentos, em sessões de
análise esclarecedoras. Existem técnicas terapêuticas de atuação breve onde o
sujeito acometido por desconfortáveis sintomas, assustadores a si próprio, poderia
ser tratado, vindo a aliviar uma crise potencial considerada leve para um
profissional experiente. A ansiedade e mesmo a incômoda angústia por ela
alimentada pode ser nada menos que uma grande força inspiradora para criação artística
ou moto propulsora das mais variadas formas de realizações sadias e algumas vezes
lucrativas.
Tudo é passageiro em
nossas vidas. Não existe labirinto sem saída!
Ruy Eduardo de
Castro. Psicanalista clínico.
ruyeduardodecastro@hotmail.com