terça-feira, 10 de junho de 2014

Brasil avermelhado.
Venho caminhando por esse Brasil há um longo tempo. Filho de pai militar, enfrentei batalhas escolares tendo estudado em uma quantidade enorme escolas Brasil a fora, consequência das mudanças para Estados para onde meu pai era transferido seguindo ordens superiores. Foi infância divertida pelas grandes diferenças encontradas na diversidade cultural brasileira. Por um lado conhecia novos lugares, pessoas, mas fez de mim um estudante itinerante que não podia se apegar a nada sendo que no fundo sempre temia perder a qualquer momento amigos, conhecidos, namoradas, amores que dispersavam pelas estradas ficadas para traz. Era um Brasil alegre um povo festeiro, foi assim em Salvador, Brasília, Rio Grande do Sul e outros Rios de Janeiros diferentes onde os amigos cresciam tornando-se outras pessoas em cada retorno meu. Foram Campos Grandes em um Mato Grosso inteiro. Vivia frequentando os quarteis em que o velho servia, comendo nos ranchos junto com a soldadada era feliz. Aprendi amar o Brasil, me arrepiar com nossa bandeira. Apesar de bagunceiro aprendi ter disciplina, pois vi que isso era bom! Se não visse também felizmente não havia lei da palmada, mereci mesmo porrada quando ainda frango me metia ser galo, o velho coronel não perdoava o couro comia, que seria eu se não as tivesse levado.Com o tempo cresci. Vi certo dia meu pai meio assustado, ele tinha quarenta anos eu contando meus doze vi os tanques dos quarteis em meio as nossas ruas era o golpe comunista, eles queriam tomar o país, escravizar nosso povo. O velho não falava muito sobre isso, mas percebi que era sério. Saiu um dia fardado com uniforme de instrução, armado, foi em um jipe do exercito, um motorista e um motociclista vieram buscá-lo o velho era homem de confiança do General Castelo Branco. Foi, ficou sumido mais de dez dias, voltou magro, olhos no fundo cansado com barba por fazer. Estava contente A revolução 64 fora vitoriosa, o Brasil venceu, estávamos salvos dos vermelhos comunistas. Entendi a situação de meu jeito adolescente, fui crescendo escutando estórias cheguei a duvidar do meu velho. Hoje tenho sessenta e um anos lembro dele quase todo dia. Penso se o velho e a turma dele estivessem aqui essa merda não teria ficado assim. Faço o que posso, já fui ameaçado, combato do meu jeito e vejo o povo sofrido, o povo enganado, os caras voltaram são os comunistas. Agora está mudando alguns amigos me dão razão. Querem mudanças são os FORA DILMA, NÃO SUPORTAM A ROUBALHEIRA. Devemos mudar votar consciente. Não podemos amarelar temos que enfrentar os vermelhos. Continuarei fazendo o mais que posso! MEU PAI ESTAVA CERTO!
O BRASIL É VERDE AMARELO!

Ruy Eduardo de Castro. 10/06/2014
A lua de Ana.
A
 Manhã suave desliza sob a grande lua que se esvai, aceitando a chegada de seu parceiro acalorado disposto a brilhar só. Em seu universo contínuo, ele faz a luz, fingindo o teatro de ir e vir. É o amanhecer dos que enveredam ao mar, vingando triste sina de quem reluta a não se entregar miserável à embriaguez amarga dos descartados de beira-mar. O pescador indo ao mar tenta reparar o pecado de ter gerado oito sem se dar conta, tendo abusado do calor de amar em sua juventude. Debaterão outra vez pela a vida com fé no olhar certeiro fixando horizontes.  Buscam num fio de esperança encher a rede e poder voltar com a lua farta, não sabem quando. Seria esta a macia companheira para o corpo curtido em sal e sol há dias no mar. Lutam para chegar vivos, com alma lavada havendo conquistado outra vez o pão, ao desafiar o azar colhendo peixes.
Ainda está escuro. Ana mansa e miúda abraça as pernas com o casaco ralo sentada no alto da duna de areia branca. Chora, geme baixinho com medo, vendo o pai aceitar seu fado ao enfrentar o mar. Sente-se só, pensa sumir com a lua, seguindo o pai, quer virar estrela, desaparecer no mar. Dos olhos molhados sente provar o gosto algumas vezes salgado de amar. Ana como todas as filhas que um dia talvez também sejam mães, teme confusa sofrer viuvez ao perder para o mar seu sonho, seu homem, seu pai. Voltando à casa infeliz, encontra ao sol sua desalmada realidade. Vassoura em mão a mulher, a suposta mãe, que madrasta malvada mais aparenta ser, pois deveria acolher não escolher. A mãe tem o dever de mandar, atribuir tarefas, liberar a confusão do café, despachar fora, devem ir para roça, triste faina, já é hora. Ana no meio da família escadinha insiste em brincar, mas ouve: Vai trabalhar! Ela sente o cheiro de peixe, pensa outra vez no pai, seu querido, seu par. É dele que gosta, é ele quem sabe amar, conversa, dá o colo conta estórias do mar, canta pra ninar a sós, diz que quando crescer vai levá-la com ele ao mar, ensinar a pescar. Ela dança corre sapeca quer voar, criança não devia trabalhar. Ajunta-se aos outros, deve na eira dura pisar descalça, tem que roçar semear e que plantar, sem descansar. Acha-se pequena quer chorar, mas não pode a mãe manda roçar, como ela um dia, Ana também há de calejar. Precisa entender que é a mandioca da terra e o peixe do mar, todo dia, sem parar. O Domingo sim, que é dia de ir missa e brincar. Vamos lá! É hora de capinar. O sol quer rachar a pele, que vai virando couro. Debaixo das roupas sente suor escorrendo molha sem parar. É a lida na roça. A mãe feitora brada: Pare de beber agua toda hora! Não se coça! Vai trabalhar. Vamos menina aluada, ou tu vai apanhar.

Continua breve.