Compulsão e seu lado positivo.
Quando adolescente tive uma pequena criação de canários
belgas. Lembro-me com alegria acompanhar o instinto daquelas aves. De maneira
convicta criavam quatro ou até cinco filhotes de uma forma irretocável desde o
comilão primogênito até o caçula mirrado esfomeado e mais tinhoso. Certa ninhada
algo triste aconteceu, um dos filhotes apresentou uma perna defeituosa.
Aconselharam o sacrifício, seria melhor afogar para que não sofresse por toda
vida. Lembro-me do drama vivido por mim ainda muito jovem inexperiente e de
macio coração. Decidi deixar rolar, que ele encarasse seu destino. Mantinha
como sempre a gaiola limpa e bem abastecida, fazia minha parte com coração
apertado. O tempo passou com muita luta ele crescia renitente, parecia um doido,
brigava pela comida com mais empenho que os outros saudáveis, gana, raça,
perseverança era um compulsivo, queria viver! Eu torcia por ele. O ciclo se
completou e o amarelinho se formou um macho lindo e exímio cantor. Ai então
facilitei. Colher de chá para ele, um prêmio merecido. Separei do grupo, perto
de uma linda fêmea amarelinha como ele. Começou tudo novamente, que agonia, o
bichinho tentava e não conseguia, porém não desistia. Devido seu defeitinho
tinha dificuldade de acertar cobrir a feminha, mas o doidinho, novamente não
desistia, tanto fez que acertou, ficou craque, ela se apaixonou! Tiveram várias
ninhadas e ele nunca falhou. Sua perna com o tempo ficou mais arrumada, não sei
como, mas ficou. Era um super pai cumpria seu dever, mostrava amor e como
cantava bonito. Em minhas caminhadas diárias reparei uma jovem correndo, lépida
e faceira, veloz e altaneira. Está por lá todo dia, corre que voa, tem uma
perna ligeiramente diferente, assim como amarelinho ficou! Lembrei emocionado
do brioso canarinho, certamente um compulsivo, nunca foi vítima. Fez de uma fragilidade a arma potente. Assim
somos nós, quando aprendemos a insistir e lutar! Parabéns a lourinha do parque!
Autoestima, a mãe da coragem!
Ruy Eduardo de Castro 10/09/14