quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Compulsão e seu lado positivo.



Compulsão e seu lado positivo.
Quando adolescente tive uma pequena criação de canários belgas. Lembro-me com alegria acompanhar o instinto daquelas aves. De maneira convicta criavam quatro ou até cinco filhotes de uma forma irretocável desde o comilão primogênito até o caçula mirrado esfomeado e mais tinhoso. Certa ninhada algo triste aconteceu, um dos filhotes apresentou uma perna defeituosa. Aconselharam o sacrifício, seria melhor afogar para que não sofresse por toda vida. Lembro-me do drama vivido por mim ainda muito jovem inexperiente e de macio coração. Decidi deixar rolar, que ele encarasse seu destino. Mantinha como sempre a gaiola limpa e bem abastecida, fazia minha parte com coração apertado. O tempo passou com muita luta ele crescia renitente, parecia um doido, brigava pela comida com mais empenho que os outros saudáveis, gana, raça, perseverança era um compulsivo, queria viver! Eu torcia por ele. O ciclo se completou e o amarelinho se formou um macho lindo e exímio cantor. Ai então facilitei. Colher de chá para ele, um prêmio merecido. Separei do grupo, perto de uma linda fêmea amarelinha como ele. Começou tudo novamente, que agonia, o bichinho tentava e não conseguia, porém não desistia. Devido seu defeitinho tinha dificuldade de acertar cobrir a feminha, mas o doidinho, novamente não desistia, tanto fez que acertou, ficou craque, ela se apaixonou! Tiveram várias ninhadas e ele nunca falhou. Sua perna com o tempo ficou mais arrumada, não sei como, mas ficou. Era um super pai cumpria seu dever, mostrava amor e como cantava bonito. Em minhas caminhadas diárias reparei uma jovem correndo, lépida e faceira, veloz e altaneira. Está por lá todo dia, corre que voa, tem uma perna ligeiramente diferente, assim como amarelinho ficou! Lembrei emocionado do brioso canarinho, certamente um compulsivo, nunca foi vítima.  Fez de uma fragilidade a arma potente. Assim somos nós, quando aprendemos a insistir e lutar! Parabéns a lourinha do parque! Autoestima, a mãe da coragem!

Ruy Eduardo de Castro 10/09/14

sexta-feira, 15 de agosto de 2014










Robin Willians. Mais uma vítima da depressão.
O indivíduo e o artista.
Ambígua situação vivida pelos atores, onde estaria o limite entre o indivíduo e o ser múltiplo, o artista. Seria possível um comutar sistêmico entre o triste e o feliz sem alguma sequela? Atualmente viver estados alterados de humor tornou-se cada vez mais comum. Vivemos um tempo de hiper excitação. A informação flui sobre nós sem tréguas, somos afetados todo momento não há filtros, todo sinal é valorizado e atendido. Excesso de afetos gera estresse. É comum entender a depressão como um estado psíquico de tristeza. As pessoas não sabem distinguir uma angustia com motivo real, de um estado doentio. Não é difícil arriscar motivos que podem ter levado um ator bem sucedido, amado e reconhecido internacionalmente ao suicídio grotesco por enforcamento. Ironia amado muitos, porém inconformado em si mesmo.  Alguns diriam, conseguiu tudo, a vida perdeu a graça, foram as drogas, uma vida de excessos. Eu diria talvez ter sido de tudo um pouco. Em uma escala similar de grandeza esta triste dor psíquica atinge a todos pelo menos uma vez durante a vida com maior ou menor intensidade. Qualquer pessoa comum atualmente gera uma produção de adrenalina bastante elevada resultando um estresse vicioso causador ora de euforia ou irritabilidade ora a tristeza, frustração. Algumas vezes profundas e duradouras. Ocorre com as pessoas em geral, cada vez mais, mesmo sem o extremismo da personalidade de um artista famoso. Somos estimulados e cobrados por performance no trabalho e também no lazer. Existe necessidade de cumprir metas, do superar a si mesmo o tempo todo. Reações psicossomáticas, doenças orgânicas são provocadas por conflitos psíquicos em geral inconscientes. Geração ou ingestão excessiva de hormônios, resultando elevação pressão arterial, doenças cardíacas, ausência de sono, ou hiperatividade, irritação, ansiedade, são sintomas, podem ser sinais de desequilíbrio psíquico que geralmente seriam controlados quando tratados logo no início até sem uso de medicamentos. Deveríamos aprender a identificar esses sintomas e buscar uma conduta preventiva. Em geral por uma resistência natural cria-se um mecanismo de defesa que impede a buscar ajuda profissional em tempo, procrastinamos. Ainda vivemos nos tempos atuais preconceitos velados quando se trata de eventos psíquicos, gera desconforto e medo. Afastamos o desejo até mesmo de um simples esclarecimento. Sofrimentos psíquicos são ainda hoje tabus! A vida acelerada de um mito do cinema, ou de um pacato cidadão comum algumas vezes coincidem em discretos sintomas que passando despercebidos posteriormente podem vir a transtornar vidas com vocação saudável. Como um Peter Pan, transcendendo a terra do nunca, Robin Willians e alguns outros “simples mortais” desprezam o céu, por ser escuro e vão ao inferno em busca de luz, como disse o poeta um dia.

Ruy Eduardo de Castro. Psicanalista Clínico.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Depressão labirinto com várias saidas.

Depressão, um labirinto com muitas saídas!
Jovem senhora X me procurou queixando-se sofrer de depressão. Adiantou-se a qualquer pergunta de minha parte fechando um drástico diagnóstico em poucos minutos. Via-se em um enredo no qual se tornara uma bela peça de decoração que a todos agradava, mas sentia-se jogada em um canto escuro, sozinha. Após anos e anos de dedicação a família, todos diziam amá-la, porém na verdade a seu modo de  ver, só a procuravam se dela precisassem. Passara cada vez mais a tratar de enfeitar-se buscando manter-se bela para continuar feliz. Sentia-se jovem no intimo, porém temia o ridículo a cada iniciativa ou sonho que lhe ocorresse. Examinava cada expressão, sorriso, cada palavra dirigida a ela por quem quer que fosse. Temia ficar só, Afinal quem gostaria dela agora que sua beleza, saúde e importância apagava-se a cada pequena ruga nova que aparecia. Achava que de novo em sua vida nada de bom viria mais. Sentia rompantes de raiva até contra seus cremes e perfumes. Queria sumir, fugir de tudo e de todos, descobrira que vivia em um mundo ingrato, nada mais lhe restava além de preocupação, medo. Muitas dores no corpo e na alma.
A atual maneira indicada para se viver bem nos está sendo apresentada através de uma fórmula aparentemente muito fácil. Tudo é possível, só depende de realmente querermos. Afinal: querer é poder! Chegando a nos proporcionar episódios em que sentimos tremendamente realizados, felizes, mas cada vez por menos tempo. Buscamos de todas as formas lutar para satisfazer nossas demandas de prazer. Somos assim solicitados a participar de uma enlouquecida maratona na qual não podemos nos alegrar com uma participação honrosa, sequer desfrutar a trajetória. Exigem somente vitórias e mais vitórias, prazeres e mais prazeres, todo viço, todas as forças nos são extraídas. Caímos cegamente em um labirinto infernal, quando apenas bem intencionados.  Afinal merecemos, é um simples prêmio por tanto esforço.
Casos como de Senhora X são cada vez mais comuns. Muitos ainda relutam em buscar ajuda profissional adequada.   Tentando resolver sozinhos ou aceitando a participação de curiosos, que embora muitas vezes bem  intencionados colaboraram para tornar graves, alguns episódios  resolvíveis até mesmo sem o uso de medicamentos, em sessões  de análise esclarecedoras. Existem técnicas terapêuticas de atuação breve onde o sujeito acometido por desconfortáveis sintomas, assustadores a si próprio, poderia ser tratado, vindo a aliviar uma crise potencial considerada leve para um profissional experiente. A ansiedade e mesmo a incômoda angústia por ela alimentada pode ser nada menos que uma grande força inspiradora para criação artística ou moto propulsora das mais variadas formas de realizações sadias e algumas vezes lucrativas.
Tudo é passageiro em nossas vidas. Não existe labirinto sem saída!
Ruy Eduardo de Castro.  Psicanalista clínico.

ruyeduardodecastro@hotmail.com

terça-feira, 10 de junho de 2014

Brasil avermelhado.
Venho caminhando por esse Brasil há um longo tempo. Filho de pai militar, enfrentei batalhas escolares tendo estudado em uma quantidade enorme escolas Brasil a fora, consequência das mudanças para Estados para onde meu pai era transferido seguindo ordens superiores. Foi infância divertida pelas grandes diferenças encontradas na diversidade cultural brasileira. Por um lado conhecia novos lugares, pessoas, mas fez de mim um estudante itinerante que não podia se apegar a nada sendo que no fundo sempre temia perder a qualquer momento amigos, conhecidos, namoradas, amores que dispersavam pelas estradas ficadas para traz. Era um Brasil alegre um povo festeiro, foi assim em Salvador, Brasília, Rio Grande do Sul e outros Rios de Janeiros diferentes onde os amigos cresciam tornando-se outras pessoas em cada retorno meu. Foram Campos Grandes em um Mato Grosso inteiro. Vivia frequentando os quarteis em que o velho servia, comendo nos ranchos junto com a soldadada era feliz. Aprendi amar o Brasil, me arrepiar com nossa bandeira. Apesar de bagunceiro aprendi ter disciplina, pois vi que isso era bom! Se não visse também felizmente não havia lei da palmada, mereci mesmo porrada quando ainda frango me metia ser galo, o velho coronel não perdoava o couro comia, que seria eu se não as tivesse levado.Com o tempo cresci. Vi certo dia meu pai meio assustado, ele tinha quarenta anos eu contando meus doze vi os tanques dos quarteis em meio as nossas ruas era o golpe comunista, eles queriam tomar o país, escravizar nosso povo. O velho não falava muito sobre isso, mas percebi que era sério. Saiu um dia fardado com uniforme de instrução, armado, foi em um jipe do exercito, um motorista e um motociclista vieram buscá-lo o velho era homem de confiança do General Castelo Branco. Foi, ficou sumido mais de dez dias, voltou magro, olhos no fundo cansado com barba por fazer. Estava contente A revolução 64 fora vitoriosa, o Brasil venceu, estávamos salvos dos vermelhos comunistas. Entendi a situação de meu jeito adolescente, fui crescendo escutando estórias cheguei a duvidar do meu velho. Hoje tenho sessenta e um anos lembro dele quase todo dia. Penso se o velho e a turma dele estivessem aqui essa merda não teria ficado assim. Faço o que posso, já fui ameaçado, combato do meu jeito e vejo o povo sofrido, o povo enganado, os caras voltaram são os comunistas. Agora está mudando alguns amigos me dão razão. Querem mudanças são os FORA DILMA, NÃO SUPORTAM A ROUBALHEIRA. Devemos mudar votar consciente. Não podemos amarelar temos que enfrentar os vermelhos. Continuarei fazendo o mais que posso! MEU PAI ESTAVA CERTO!
O BRASIL É VERDE AMARELO!

Ruy Eduardo de Castro. 10/06/2014
A lua de Ana.
A
 Manhã suave desliza sob a grande lua que se esvai, aceitando a chegada de seu parceiro acalorado disposto a brilhar só. Em seu universo contínuo, ele faz a luz, fingindo o teatro de ir e vir. É o amanhecer dos que enveredam ao mar, vingando triste sina de quem reluta a não se entregar miserável à embriaguez amarga dos descartados de beira-mar. O pescador indo ao mar tenta reparar o pecado de ter gerado oito sem se dar conta, tendo abusado do calor de amar em sua juventude. Debaterão outra vez pela a vida com fé no olhar certeiro fixando horizontes.  Buscam num fio de esperança encher a rede e poder voltar com a lua farta, não sabem quando. Seria esta a macia companheira para o corpo curtido em sal e sol há dias no mar. Lutam para chegar vivos, com alma lavada havendo conquistado outra vez o pão, ao desafiar o azar colhendo peixes.
Ainda está escuro. Ana mansa e miúda abraça as pernas com o casaco ralo sentada no alto da duna de areia branca. Chora, geme baixinho com medo, vendo o pai aceitar seu fado ao enfrentar o mar. Sente-se só, pensa sumir com a lua, seguindo o pai, quer virar estrela, desaparecer no mar. Dos olhos molhados sente provar o gosto algumas vezes salgado de amar. Ana como todas as filhas que um dia talvez também sejam mães, teme confusa sofrer viuvez ao perder para o mar seu sonho, seu homem, seu pai. Voltando à casa infeliz, encontra ao sol sua desalmada realidade. Vassoura em mão a mulher, a suposta mãe, que madrasta malvada mais aparenta ser, pois deveria acolher não escolher. A mãe tem o dever de mandar, atribuir tarefas, liberar a confusão do café, despachar fora, devem ir para roça, triste faina, já é hora. Ana no meio da família escadinha insiste em brincar, mas ouve: Vai trabalhar! Ela sente o cheiro de peixe, pensa outra vez no pai, seu querido, seu par. É dele que gosta, é ele quem sabe amar, conversa, dá o colo conta estórias do mar, canta pra ninar a sós, diz que quando crescer vai levá-la com ele ao mar, ensinar a pescar. Ela dança corre sapeca quer voar, criança não devia trabalhar. Ajunta-se aos outros, deve na eira dura pisar descalça, tem que roçar semear e que plantar, sem descansar. Acha-se pequena quer chorar, mas não pode a mãe manda roçar, como ela um dia, Ana também há de calejar. Precisa entender que é a mandioca da terra e o peixe do mar, todo dia, sem parar. O Domingo sim, que é dia de ir missa e brincar. Vamos lá! É hora de capinar. O sol quer rachar a pele, que vai virando couro. Debaixo das roupas sente suor escorrendo molha sem parar. É a lida na roça. A mãe feitora brada: Pare de beber agua toda hora! Não se coça! Vai trabalhar. Vamos menina aluada, ou tu vai apanhar.

Continua breve.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

All we need is love!


Eis que quatro anos e passaram. Estive afastado deste blog e continuando imerso em mim mesmo constatando, arraigando a evidente mudança que eu apliquei em mim mesmo, através de uma busca interior intensa  envolvido com estudos profundos. Consegui definitivamente passar a atuar integralmente na profissão que escolhi após  alguns anos de estudos preparatórios e outros de intensa atividade clinica. Tenho  a segurança e convicção de poder aplicar a técnica analítica Freudiana. Venho praticando com sucesso e grande satisfação profissional  participando  da melhoria da qualidade de vida de grande quantidade de pacientes, sendo que um a um ratifica e me impulsiona a estudar mais, Gosto de gente! Não poderia hoje fazer outra coisa ou atividade profissional diferente. Consegui por meus esforços e dedicação entender as palavras de meu avô paterno medico quando se referia ao Grande prazer de curar pessoas. Não há dinheiro que pague. Igual só satisfação  e alegria recebida de filhos. Hoje vejo pessoas de forma incondicional, tenho prazer em fazer o bem. Abro meu consultório às quartas feiras para atender pessoas em dificuldade financeira recebendo como pagamento o valor que possam dispor, o importante é servir e ajudar, apoiar. Tem dado muito certo No início me via descrente, não acreditava no que via. Lembro-me que minha avó Haidée  dizia: vc tem mão boa menino tem o dom de fazer o bem, o dedo verde vai ser feliz! Felizmente minha trajetória foi tortuosa e difícil, me fez adquirir experiência e dar valor ao que é simples. Era afobado, aprendi a ouvir. Era precipitado, aprendi a esperar. Era nervoso, acalmei. Passei por estradas encantadas com personagens cruéis, hipócritas fantasiados de altruístas, convivi com sacerdotes do roll do demônio. O mundo torto  vi samaritano fazer o bem  enquanto lobos pastoreavam ovelhas incautas. Passei pelo purgatório das religiões e encontrei a Deus. Estive em frente a morte e não trai minha fé. Creio em Deus, não quero impressionar ninguém, mas tenho certeza Dele! Começarei a postar regularmente outra vez. Espero colaborar de alguma forma para um mundo melhor!         TUDO QUE PRECISAMOS É DE AMOR! Disse um sábio! Estou feliz!
Ruy Eduardo de Castro. 19/02/2014.