Robin Willians. Mais uma vítima da depressão.
O indivíduo e o artista.
Ambígua situação vivida pelos atores, onde estaria o limite
entre o indivíduo e o ser múltiplo, o artista. Seria possível um comutar sistêmico entre o triste e
o feliz sem alguma sequela? Atualmente viver estados alterados de humor
tornou-se cada vez mais comum. Vivemos um tempo de hiper excitação. A
informação flui sobre nós sem tréguas, somos afetados todo momento não há
filtros, todo sinal é valorizado e atendido. Excesso de afetos gera estresse. É
comum entender a depressão como um estado psíquico de tristeza. As pessoas não
sabem distinguir uma angustia com motivo real, de um estado doentio. Não é
difícil arriscar motivos que podem ter levado um ator bem sucedido, amado e reconhecido
internacionalmente ao suicídio grotesco por enforcamento. Ironia amado muitos, porém
inconformado em si mesmo. Alguns diriam,
conseguiu tudo, a vida perdeu a graça, foram as drogas, uma vida de excessos.
Eu diria talvez ter sido de tudo um pouco. Em uma escala similar de grandeza
esta triste dor psíquica atinge a todos pelo menos uma vez durante a vida com
maior ou menor intensidade. Qualquer pessoa comum atualmente gera uma produção
de adrenalina bastante elevada resultando um estresse vicioso causador ora de
euforia ou irritabilidade ora a tristeza, frustração. Algumas vezes profundas e
duradouras. Ocorre com as pessoas em geral, cada vez mais, mesmo sem o
extremismo da personalidade de um artista famoso. Somos estimulados e cobrados
por performance no trabalho e também no lazer. Existe necessidade de cumprir
metas, do superar a si mesmo o tempo todo. Reações psicossomáticas, doenças
orgânicas são provocadas por conflitos psíquicos em geral inconscientes. Geração
ou ingestão excessiva de hormônios, resultando elevação pressão arterial,
doenças cardíacas, ausência de sono, ou hiperatividade, irritação, ansiedade,
são sintomas, podem ser sinais de desequilíbrio psíquico que geralmente seriam
controlados quando tratados logo no início até sem uso de medicamentos. Deveríamos
aprender a identificar esses sintomas e buscar uma conduta preventiva. Em geral
por uma resistência natural cria-se um mecanismo de defesa que impede a buscar
ajuda profissional em tempo, procrastinamos. Ainda vivemos nos tempos atuais
preconceitos velados quando se trata de eventos psíquicos, gera desconforto e
medo. Afastamos o desejo até mesmo de um simples esclarecimento. Sofrimentos
psíquicos são ainda hoje tabus! A vida acelerada de um mito do cinema, ou de um
pacato cidadão comum algumas vezes coincidem em discretos sintomas que passando
despercebidos posteriormente podem vir a transtornar vidas com vocação
saudável. Como um Peter Pan, transcendendo a terra do nunca, Robin Willians e
alguns outros “simples mortais” desprezam o céu, por ser escuro e vão ao
inferno em busca de luz, como disse o poeta um dia.
Ruy Eduardo de Castro. Psicanalista Clínico.
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