quinta-feira, 29 de novembro de 2007


Tempestade de Areia. (O sonho)


Formava-se enfurecido no horizonte um assustador redemoinho de vento, as areias passageiras relutavam insanas assoviando terror por onde passavam. O calor ressecante oprimia a alma em pânico pela invalidez do corpo, que prostrado aos poucos se entregava alheio a qualquer esperança. A calma do pequeno recanto e a generosa água do poço arcaico, carecia de sombra para aplacar a fúria da canícula impiedosa. O tempo passara e em agonia lamentava ao implacável arrenego de Alá às mulheres, vítimas eternas da impiedade do misógino deus dos desertos. Havia ela se mantido pura através dos tempos, apesar dos aflitos apelos de candidatos ao seu amor. Aguardava àquele que como um príncipe, iria arrebatar sua alma e colher em volúpia seu represado amor.
Naquele longo colecionar de instantes, tudo passava em sua cabeça, era um só emaranhado de dores de arrependimento que já não conseguiam plasmar seu herói prometido em sonhos. A origem fatal enredava sua vida nas contingências impiedosas do Al Corão, sua condição de fêmea fazia com que arrastasse sobre os ombros a pesada cruz. Naqueles momentos do agora insistiam em tocar a eternidade e já não mais se arrastava, jazia parado. Ela não conseguia disfarçar a raiva que alimentava contra os costumes de seu povo e lamentava sua burca negra não tapar também, definitivamente a sua visão, então chorava por seu herói cristão, pelo qual delirava em suas noites de solidão, quando buscava solução para seus abrazados lamentos. As condições climáticas do deserto eram imprevisíveis, mas dessa vez não parecia que mudariam e nossa solitária heroína agonizava seus fracos e derradeiros suspiros de impotência e a turva visão a convidava a entrega inevitável aos braços do cavaleiro negro da foice afiada, que já zunia no trevoso início de noite. Era o redemoinho da morte que em seu delírio já impunha um tremor intenso na frágil criatura. Por uma última vez tentou amealhar forças para vislumbrar a chegada de seu herói trazendo luz, àquelas trevas que insistiam em gargalhar sem boca entre o capuz macabro. Enfim perdeu a visão ao ouvir um retumbante relinchar de agonia no misturar de sons agora mais confusos. Aparentava aos seus fracos sentidos outro abafado galope nas areias, que a fez se atrever a abrir novamente os olhos que brilharam, mas antes porem disparou seu coração sangrando de amor e palpitando sem ritmo pela miragem devastadora do cavaleiro prateado El Rinald, que em seu cavalo de fogo cavalgava , o justiceiro de Abraão com sua longa lança e sua esvoaçante mecha de prata na cabeleira negra deslumbrante, que coadjuvante ao sorriso branco como luar, espantou a morte quando esta galopou desvairada com a cola enfiada entre as pernas, amedrontada.
Como em um poema mil e uma noites em um só instante a tristeza se fez luz gloriosa, arrebatou a amada agarrada a sua mão estendida, voando para sua garupa e como um cometa cruzaram os céus agora estrelados. No horizonte se voltaram e viu-se empinar o garanhão do amor.
E assim foram felizes para sempre......... unidos por DEUS, em muitas longas conversas, muitas missões e muito, muito amor.

Ruy Eduardo de Castro.
29/11/07.

Nenhum comentário: