quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Uso a palavra para compor meus silêncios
Não gosto das palavras fatigadas de informes.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes
Prezo insetos mais que aviões
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso
Meu quintal é maior que o mundo
Sou um apanhador de desperdícios:
amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto
Por que eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manuel de Barros

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