quarta-feira, 19 de dezembro de 2007




Chegando a luz, saindo das trevas.

A presença da luz da manhã pontilhava as brechas da cortina. O horário era de verão e o dia chegava mais cedo. O corpo descansava, mas já começava a despertar para o período de vigília.
As percepções do mundo misturavam-se com realidade só percebida pelo espírito. São os instantes em que o corpo e alma submetem-se à prisão como na visão platônica. Os emaranhados das inspirações oníricas misturam: a razão humana com as orientações espirituais de origem divina. A alma já antiga, marcada de lutas, carrega obliqua, a esperança de identificar a companhia da Estrela da Manhã. A sombra insistente e impiedosa transtorna o corpo decaído com insinuações das trevas. Como um filme projetado no ar, o quarto fica travestido de imagens, num carregado de intensas cores onde o vermelho prevalece, salpicado de falsas estrelas de um dourado kirsh. O ambiente aparenta demonstrar um altar que não se fixa à realidade e transfigura-se com a Luz. A potestade incoerente à sua antiga força, e cada vez mais opaca, tenta sorrateira entrada, mostrando sua face caricata, ao espírito lavado no sangue do cordeiro santo. Percebi a força da verdade de: a Luz afastar as trevas. O inimigo desta vez se apresentava como uma gorda e farta negra que transparecia incerteza e como que cumprindo ordens de um patrão estúpido, timidamente buscava seu antigo altar na casa do cristão, ex-espírita. Já esboçando um sorriso lateral de vitória, a potestade assusta-se com a presença do Santo Espírito, que desperto e atento, se reflete no corpo salvo. O espírito inexperiente do cristão de sopetão levanta-se e entra no espectro, passa a participar da cena ativamente, se adiantando ao Espírito Santo, quando fala com raiva amarrando o capeta e expulsando a entidade, num misto de corpo e alma, em agonia e surpresa. Partindo no encalço, o alvoroçado encurrala a fera, que faz feição triste e medrosa; estavam agora na cozinha que estava muito ampla e se preparava para a festa.
Aos poucos a aparência diabólica aproxima-se ao rosto medroso de sua serva e partem como um sumiço. O cristão volta sobressaltado ao quarto já totalmente iluminado e percebe a esposa dormindo em paz. Era o início do dia de aniversário do filho caçula, ainda do mundo, seria um dia de festa. O cristão percebeu a vitória e a proteção divina. Ao voltar ao corpo, completando o despertar escuta uma suave voz sussurrar: leia João 3.16. Foi um sonho?

10/11/2006

Ruy Eduardo de Castro.

Nenhum comentário: