terça-feira, 3 de junho de 2008


CÍRCULO VICIOSO

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
— "Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
"Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
— "Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte armada e bela..."
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
— "Mísera! Tivesse eu aquela enorme,
aquela Claridade imortal, que toda luz resume!"
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
— "Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?"

Machado de Assis

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