segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Peregrino. John Bunyan.
Capítulo 1.
Caminhando pelo deserto deste mundo, parei em um lugar onde havia uma caverna. Ali deitei-me para descansar. Logo adormeci e tive um sonho[1]. *[acesso ao site]
Vi um homem de pé diante da casa onde morava. Tinha sobre as costas um fardo pesado e nas mãos um livro (Is 64:6; Hc 2:2; Lc 14:33). Olhei para ele com atenção e vi que abria o livro e o lia. À medida que ia lendo chorava, e finalmente perguntou em alta voz: "Que devo fazer para ser salvo?" (Hc 1:2,3; At 2:37 e 16:30,31).
Visivelmente abalado voltou para casa, esforçando-se para controlar-se, pois não queria que sua mulher e seus filhos percebessem sua aflição. Porém, como a certeza de que era um pecador e que necessitava de perdão aumentava, ele não pôde mais disfarçar seus sentimentos diante da família. Chamou a todos e disse-lhes:
— Querida esposa e filhos amados do meu coração, não posso mais aguentar o peso deste fardo de pecados que está esmagando os meus ombros. Tenho certeza que esta cidade em que moramos vai ser destruída em pelo fogo do castigo de Deus, e que todos morreremos nesta terrível catástrofe se não encontrarmos um meio de escapar. O meu medo aumenta quando penso na possibilidade de não encontrarmos esse meio de salvação.
Ao ouvir estas palavras, a família de Cristão ficou cheia de medo e espanto. Não de a cidade vir a ser destruída, e sim de Cristão ter enlouquecido.
Estava anoitecendo. Certamente uma boa noite de sono faria com que ele esquecesse tudo aquilo. Foi o que sua esposa e filhos pensaram. Levaram Cristão para seu quarto, mas ele passou a noite em claro, chorando e lamentando-se pelo seu estado espiritual e de sua família.
Pela manhã, quando lhe perguntaram se estava melhor, Cristão disse que a certeza de que todos corriam perigo de morrer, se continuassem naquela cidade, o afligia cada vez mais. Continuou a falar sobre isso, mas sua família, em lugar de ouví-lo, passou a tratá-lo com dureza. Esperavam conseguir pela força o que não conseguiram pela doçura. Alguns zombavam dele; outros o repreendiam. E todos o desprezavam. Cristão trancou-se de vez no seu quarto para orar e chorar. Algum tempo depois saiu para o campo, procurando encontrar na leitura e meditação na Bíblia algum alívio para seus sofrimentos.
Certo dia em que estava no campo lendo a Palavra de Deus e meditando, parou e perguntou outra vez: "O que devo fazer para ser salvo?". Olhava de um lado para outro, procurando um caminho por onde pudesse fugir. Porém, não o encontrando, continuou parado, sem saber que direção tomar.
Vi, então, aproximar-se dele um homem chamado Evangelista (Jó 33:23). Houve entre os dois o seguinte diálogo:
— Por que está chorando?
— Porque este livro me diz que estou condenado à morte, e que depois serei julgado (Hb 9:27), e não quero morrer nem estou preparado para comparecer em juízo (Ez 22:14).
— E por que você não quer morrer se sua vida é cheia de tanta coisa ruim?
— Porque tenho medo de que este fardo que carrego nas costas me sepulte de maneira mais profunda do que o próprio sepulcro, e eu venha a cair na fogueira, no inferno, que a Bíblia também chama de Tofete (Is 30:33). Não quero ir para essa prisão horrível da condenação eterna, nem muito menos estou preparado para comparecer perante o Juiz dos juízes. Eis a razão do meu pranto.
— Então o que você pretende fazer, agora que está consciente da sua situação?
— Não sei o que fazer nem para onde ir.
— Tome e leia (deu-lhe um cartaz escrito "Fuja da ira futura", Mt 3:7).
— E para onde devo fugir (após ter lido)?
— Você está vendo aquela Porta Estreita (Mt 7:13,14?, disse o Evangelista apontando para um campo muito largo e longo.
— Não, não estou vendo.
— Não está vendo uma luz brilhando ao longe (Sl 119:105, 2Pe 1:19)?
— Sim, eu acho que estou vendo.
— Pois não a perca de vista. Vá direto a ela, e encontrará uma porta. Bata, e lá lhe dirão o que fazer.
1. O autor refere-se poeticamente à sua prisão, enquanto escreve o livro

*Se despertar em você interesse de ler a continuação, clique em [1] e acessará o site.

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