segunda-feira, 16 de junho de 2008

Meu pai está indo....

Ele estava pálido, rosto abatido
A sua face era agora um crânio
Os olhos fundos, opacos me desconhecem
É o início do fim, vê o filho entende irmão.

Para quem gostava da vida, agora não vê sentido
O que era a vida já tão distante, agora perde os filhos
Em sua frente os desconhece, entende irmãos que se foram
Já vive outra vida, os de cá não vê, enxerga lá o outro lado.

Ele disse: hoje achei que ia. Perguntei, ia aonde?
Ele disse: Pro outro lado. Perguntei, que lado?
Ele disse: o lado de lá!
Eu disse, ou melhor, pensei: ué, agora existe outro lado

Ele era ateu ou agnóstico, sempre se disse forte, torcendo a boca.
Um dia falei de Deus, outra vez: e aí já fez as pazes com Jesus
Ele disse: Eu nunca briguei com ele,
Ele fez um gesto, puxando a gola, mostrou desgosto, por Deus.

Agora está só, ele e os pensamentos, uns bons, às vezes agonia.
Triste viver, se disse agnóstico, mas sempre falava em Deus
Agora pergunta pelo pai, a mãe, os irmãos, só fala neles
Deus amolece o coração, Deus tem tempo, triste viver sem Deus!

O tempo amolece o miolo, virou criança, pra quem lia Voltaire
Este, o Voltaire disse: em cem anos acaba o cristianismo
Este, o Voltaire morreu louco, miolo mole!
Outro disse: Deus morreu; Nietzsche o miolo mole, morreu. Louco!

Melhor pouco saber, por entender nada saber!
Inculcar sábio? Tornar-se louco!

r.e.castro 16/06/2008

Nenhum comentário: