sábado, 21 de junho de 2008

A Vila.

O filme faz com que deparemos com inúmeros eventos fenomenológicos observáveis sem muita dificuldade. Um grupo de pessoas liderado por um conselho de anciãos resolve, após inúmeros dissabores e tragédias na convivência social tradicional em cidades, abandonar esta forma de vida. Retira-se para formar uma utopia, caracterizada pela vida longe das conglomerações urbanas. Planejam e realizam criteriosamente o que consideram uma comunidade regida por princípios rígidos de convivência marcados por uma ética de convenções revolucionárias. Fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade
No início do filme podemos notar a retórica saudosista, se observarmos o retorno no tempo, que se pode ver nas datas da lápide de mármore, da cova onde seria enterrado o corpo do rapaz que havia morrido, por falta de socorro médico adequado. Também reparamos os antiquados usos e costumes, por suas roupas e o aparelhamento despojado de conforto no qual vivem, fazendo crer estarem em época provavelmente século XVI. A falta de conforto, como energia elétrica e utensílios domésticos modernos tipo: fogões, geladeiras etc. Porém não ficam por aí, criam uma sociedade alternativa ponteada por uma ética de educação e de comportamento que seria considerado incomum atualmente. Desta forma em sua cidade sonho, desenvolvem critérios de controle e manipulação de identidades, tornando os nascidos no lugar um povo desprovido de defesa para uma sobrevivência real. A fuga desenrola-se aparentemente bem, mas repara-se a violência apresentada em cores diferentes, transformando aquele povo em doentios seres. Elegem tabus e dogmas como a cor vermelha e consideram o universo que os rodeia hostil. Criam inimigos de sério potencial agressor, com os quais mantinham acordos de convivência “pacífica”, sendo cada qual restrito à seus limites territoriais.Demonstram seu cinismo ao fraudar rituais de entrega de sacrifícios mediante oferta de partes de animais. A importante reflexão dos fenômenos mostra que realmente o homem é capaz de crer no que imagina e viver em função dessa “realidade fabricada”. A fraude criada para manter o povo naquele lugar começa a frustrar o ideal utópico, apesar de sua premissa honesta, porém baseada em uma ingênua ilusão. O mundo é composto de uma diversidade “incontrolável” mesmo aos pequenos grupos humanos. Afloram personalidades autênticas saudáveis e o oposto doentio, também se faz ver, causado pela opressão, e falta de liberdade. Percebemos a criação de rituais de controle e a reação desesperada e mesmo pânico, demonstrado por eles em oportunidade de jogos e brincadeiras juvenis ou nas incursões corajosas por elementos de personalidade de característica heróica. Os fenômenos constituem o mundo da forma que nós o experimentamos, ou buscamos fazer existir, ao contrário do mundo da realidade, como existe independentemente de nossas experiências, em si mesmo por sua condição independente. O homem é capaz de criar realidades virtuais. Não concordo com a visão estereotipada do homem ter criado Deus , mas creio na sua capacidade de criar deuses a sua conveniência. O filme em si é um exemplo da manifestação da idolatria antropomórfica, onde o grupo ou o líder cria um mundo ideal independente, depara com sua própria limitação, da mesma forma que no universo real. Achei interessante a capacidade de integração e adaptação humana às condições, quando mostrado por ocasião da ida ao mundo real e o retorno à condição utópica. Percebemos o grupo criando “verdades” para justificar sua conveniência, aproveitando-se de fatos ocorridos acidentalmente para ratificar sua iniciativa coerciva e ditatorial. Percebi a mensagem da incapacidade humana de criar o seu pseudo paraíso, a decorrência do imprevisível, do incontrolável, o círculo vicioso da condição miserável do ser humano caído. Transformaram a verdade e a apresentaram como tal aos seus próprios descendentes. Mesmo assim, os criando em uma redoma não conseguiram manter o controle, vindo a perder o rumo. Não conseguiam realmente se livrar do passado e da dura realidade, aparentando uma analogia às diversas formas insatisfação e de fuga humana.
Depararam a certa altura com a confusão emocional criada que culminou em um estúpido assassinato, mostrando a natureza má do ser humano, mesmo quando ignorando ingenuamente à realidade. Percebemos a realidade do mal em sua condição intrínseca ao homem em sua herança adâmica. Percebi que talvez possam ter inferido uma acentuação da validade da exclusão e a uma possível alusão a uma conseqüente implantação de divisões sociais, sob um regime de castas ou algo parecido. Vemos na personagem da jovem cega, e do rapaz Lúcius querendo mostrar talvez assim, um caminho ao radicalismo exclusivista, por uma depuração de qualidade humana ou uma essência pura. Percebi a sutileza da bondade no líder, mas em situação particular de seu interesse, pelo mesmo que provavelmente se sentiu confortável, ao permitir o cruel destino ao filho alheio, mostrado no funeral da abertura do filme. Mostra a fragilidade e corrupção humana de uma forma bem clara. Se por acaso o escritor ou diretor quis desmoralizar a Deus, o tiro a meu ver saiu pela culatra, explodindo em sua face. A provável alusão liberal, encobre de tendências sectárias, relembram a personalidades psicopatas, comunidades de “raça superior”. Não podendo deixar de me posicionar claramente, aproveito a ocasião para definir minha convicção de que o pensar cristão, de existência de um povo eleito, salvo, não é uma desembocadura de raças melhoradas por obras, mas como define a visão reformada, vem pela graça de Deus através de Jesus. Constitui um padrão de justiça externo, vinda de Deus e não por méritos pessoais.
r.e.castro 21/06/2008

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