sábado, 12 de julho de 2008

O baile.

Quando meu avô morreu escutei meu pai dizer: um homem só se torna realmente homem quando seu pai morre. Não entendi o que ele quis dizer na época, porém hoje quando o vejo, dia a dia desmontar, perder sua identidade, não poder controlar sequer suas funções fisiológicas, quase vegetar, percebo que temos que ser muito fortes para suportar. Não somos nada, a vida é frágil, passageira angustiada de sua brevidade. Quando um homem começa a amadurecer e perceber a verdadeira beleza da vida, geralmente se assusta com sua simplicidade e o quanto perdeu tempo. O mais interessante é que muitos nunca amadurecem, não perdem nem sofrem seus pais, acham-se fortes recebem heranças ou se livram de cargas. Hoje estive com eles, papai e mamãe estão velhinhos, mais de sessenta anos casados, acertos, erros como todos nós, mas se amam. Não sou o músico da família, gosto de arranhar um violão modestamente, como meu pai gosto de serestas. Apesar de ter sido auto- didata, consegui amealhar de ouvido,ou melhor "de internet" boas canções antigas, bem ao gosto de meu pai. Sou tímido quando tenho que apresentar algo que não domino muito bem, mas senti uma vontade grande de proporcionar bons momentos aos meus velhos. Cheguei lá com as tralhas em punho montei tudo, causando surpresa com meu violão companheiro. Como já contei por aqui, minha mãe foi professora de piano preparada com prática e teoria, formada na Escola Nacional de Música, sendo assim platéia qualificada. Desenrolei “bem” alguns clássicos do repertório popular antigo como: A noite do meu bem, Nervos de aço, Boemia, Não deixe o samba morrer, Amélia, As pastorinhas, eles vibravam, a certo ponto, toquei: Tristeeza, por favor vá emboora...Neste momento meu velho levantou da cadeira de rodas e dançou com dona Diva, minha mãe, se emocionaram de felicidade e se beijaram, me senti uma criança! Que alegria. Não queria perder meu pai, mas ele talvez não vá demorar muito por aqui. Não consegui ser um bom músico como um dia quis, mas acho que tive hoje o prazer de proporcionar um grande baile, ver o amor dançar feliz como eram quando jovens, e eu vi tantas vezes dançarem . Presente de Deus!
r.e.castro 12/07/2008

Nenhum comentário: