sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


QUEM SOMOS NÓS?
A máxima socrática "conhece-te a ti mesmo" nos conduz a um questionamento, uma vez que somos "os autores de nossas ações". Estaria essa afirmação no âmbito da realidade? Seríamos nós mesmos autores das nossas ações?
Quem somos nós? Ao lermos o escritor Fernando Pessoa, deparamos-nos com sua genialidade, incorporada em mais de vinte heterônomos. Ele conseguiu desalojar do seu interior várias identidades, quando ele, Fernando Pessoa, era somente uma única pessoa.
O mais interessante, que ao escrever os seus heterônomos, Fernando deu a cada um, pensamentos e sentimentos diferentes.
O heterônomo Álvaro de Campos dizia ser ele o "espaço entre vários fatos e épocas" em sua vida. Ele era o intervalo entre o que ele desejava, o seu eu e os anseios desejosos dos outros na tentativa de determinar o que ele deveria ser.
Paulo, personagem bíblico, encontra-se numa situação, cuja identidade o deixou duvidoso ao afirmar: "o bem que quero fazer, não faço, mas o mal este faço continuamente", depois ele interroga, dizendo: "Quem me livrará do corpo desta morte"? Estudiosos do direito romano afirmam que o homicida daquela época, após o crime, tinha o defunto amarrado ao seu corpo, até entrar em estado de putrefação. Parece que Paulo percebia uma outra realidade, vivendo junto a ele e nele. Paulo, que antes se chamava Saulo, precedendo a sua conversão ao cristianismo, identificou que ele não era um, mas dois, ou seja, sentiu o cheiro de Saulo, personificado no pecado, ao afirmar que não era ele que cometia o que não queria cometer.
Sendo assim, diante do conflito subjetivo do fazer e o não fazer, cabe aqui outra pergunta: pode o homem cometer o mal involuntariamente? Parece que sim, pelo que vimos anteriormente. No entanto, o homem não deixará de sofrer a sanção da lei, se o mal praticado for um ilícito penal.
Quem somos nós? Provavelmente seres sem o direito de ser o que desejamos, cujo objeto do nosso desejo não é o desejado. Há um gozo em fazermos o que não queremos realizar.
Postado por Psicanálise e cultura às 15:57
Marcadores: Matéria publicada no jornal O Canhoto do Município de Cachoeiras de Macacu - primeria quinzena de dezembro/ 2007 nº 1

Psicanalista, Bacharel em filosofia, Teólogo, Professor de grego e exegese do Novo Testamento, Escritor, Colunista do jornal "O Canhoto" Cachoeira de Macacu ---- orkut: Djalma Lemos

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