segunda-feira, 10 de março de 2008


Os olhos do cão.
O Vadico era um cara admirado, os amigos gostavam dele, gostavam mais de suas doideras e casos de confusão que se metia. Era um tipo safado, tinha corpo fechado, não levava desaforo, muito pelo contrário, era desaforado. Quando bebia então era pior, o problema que estava sempre bebendo, fumando sei lá o que, não queria saber. Tipo bonitão aonde chegava era notado, adorava perceber a mulherada dando mole pra ele. Vadico tinha fama de mulherengo e poucos sabiam que na verdade era tímido e vencia o pudor bebendo e sentia-se liberto de sua educação complicada quando sofreu na fivela do pai autoritário. Andara pela Bahia e lá aprendeu capoeira era o catiço, ninguém pegava. Sua vida era uma estória, mas pouco se sabia de seus segredos. Vadico tinha o veneno no olhar, parecia mandinga, tinha uma forma de olhar pras mulheres e pessoas em geral que constrangia, mulheres olhavam e não conseguiam se livrar eram presas fáceis. Muitos homens desviavam o olhar por sentir sua personalidade forte, ficavam sem graça. Vadico ficou muito tempo solteiro, mas um dia caiu no veneno se apaixonou, ele sabia que só podia sair com uma mulher uma vez, no máximo duas se insistisse ia ficar preso a ela e aconteceu. A paixão foi uma loucura, esqueceu da vida virou o capacho, dizem que ela o deixou e pobre do Vadico ficou chorando nas mesas dos bares. Pagou caro por suas conquistas e colheu as pragas lançadas pelas mulheres que ele deixou por aí sem dar satisfação. Vadico as tratava como uma coisa qualquer, como se fosse uma fruta que comia e jogava o bagaço fora. Agora estava na posição trocada, era a vítima. Fez de tudo acendeu vela para todos os santos, estava arrasado perdera suas forças. Dava pena de ver, só andava caído, bebia nos bares e por lá ficava até ser expulso. O tempo foi passando aos poucos se levantou, e já começava de novo a arrastar suas asas, a paixão não passara, no fundo agora queria se vingar. Via em todas algo parecido com ela começava armar a conquista quando ganhava sumia, voltou a ser rei. As coisas pareciam ter voltado ao normal, volta e meia lembrava, mas deixava de lado fingia esquecer, o amor estava lá cravado. Certa noite rolava nos bares, quando cruzou um 0lhar , era ela, queria voltar, se desesperou tentou disfarçar não conseguiu. Foi coisa rápida menos de um ano estavam casados e Vadico era outro homem, feliz vivia a cantar, agora melodias de ninar, o amor rendeu frutos e a criançada invadiu o lar. Tudo rolava as mil maravilhas quando Vadico sentiu falta da bagunça, seu olhar de bem casado acossava a galinhagem da mulherada, mas Vadico se mantinha distante controlando a bebida, pois sabia que se bebesse não resistia, então aconteceu, facilitou caiu pra primeira, depois de casado nunca havia acontecido, daí pra frente foi ladeira abaixo. Não sabia se bebia pra trair ou se traia porque bebia. Sentia-se mal lutava para parar, não conseguia. Certo dia a farra foi tão grande que o remorso o desesperou, lembrou que quando menino tinha ido numa noite na praia no dia da macumba no fim do ano. Foi se lembrando da mulher de branco que o rezara e dissera que ele tinha feitiço de olhar. O caso não lhe saia da cabeça, a cada queda, cada mulher doía seu coração ele sentia remorso não conseguia evitar. Foi então que resolveu desfazer o feitiço que achara ter recebido daquela mulher. Soube de um centro pros lados de Bangu e resolveu que ia lá. Era uma sexta, dia dos exus, partiu sozinho, meio com medo não sabia como seria e o que ia dizer. Quando chegou o coro comia era uma festa, muita gente, centro famoso, tinha que chegar cedo pra falar com o coisa ruim, mas ele achava que pra desfazer tinha que ser com quem fez. Pegou uma ficha ficou esperando, a roda rodando, fila na escada volta e meia saia um entrava outro tudo caso pesado, ele ficava vendo e já nem sabia direito se devia dizer. Chegou sua hora mandaram ele entrar, entrou viu uma mulher gorda que mandou sentar. Ela olhou pra ele, ele pra ela, aí ela disse: olha tavendo esse aí, apontou pra um diabão de cerâmica ao lado de chifre e tudo, eu sou assim como você está vendo aí, essa aqui que esta falando com você é só o cavalo, na verdade você esta falando é com o diabo em pessoa. Vadico olhou para ela ou ele sei lá e detonou, olhando bem nos olhos do cão! olhou bem nos olhos, perguntou: você faz qualquer coisa? Ele respondeu com cara de mal, faço sim!Ai Vadico disse: É o seguinte, quero me livrar das mulheres, quero ter só a minha, elas dão em cima de mim eu não resisto e fico depois sem graça com minha mulher! A diaba ou o diabo sei lá arregalou os olhão, não entendeu, aí falou: você tem certeza? Nunca ninguém me pediu isso, torceu o nariz, fez cara de espanto, balançava a cabeça, como quem conversava, falou palavrão quis ficar bravo e aí falou então está bom, tá feito! pode ir embora está resolvido! O diabo ficou xingando!
Vadico saiu olhando pros lados, parecia que todo mundo tinha visto e ouvido olhavam pra ele quando ele passava, foi embora, o veneno passou!
Vadico sumiu, não se vê mais pelos bares, nem noites, faz muito tempo,dizem que ele encarou o diabo, dizem que até virou crente!Dizem ser esta uma estória verdadeira!
r.e.castro 9/3/2008.

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