domingo, 16 de março de 2008

A seqüência de fotos.
A fotografia foi um amor jovem em minha vida, vivia em Copacabana, tinha sensibilidade para as coisas belas, sentia uma grande atração pela mulher e sua beleza, gostava muito de ver gente bem vestida e elegante. Queria ser fotografo profissional, fotografo de moda, jornalista, para conseguir estar perto daquelas modelos lindas. No prédio em frente ao meu morava uma maneca famosa e o namorado dela, um fotografo de moda forte na época, a pegava de carro esporte,à porta de casa, a garotada, eu e meus amigos, ficávamos babando querendo ser grande. Assim que pude comprei minha primeira máquina profissional, andava pela rua registrando tudo que podia. Naquela época era difícil para quem era duro tirar fotos, era tudo muito caro, revelação, filmes, tudo era caro, mas eu ia brincando. Junto com um amigo montei um pequeno laboratório preto e branco, era muito legal viver aqueles sonhos de juventude.
Uma vez em um dia de sol eu fui ao Arpoador, em minha personalidade fotografo e não o Ruy atleta, lutador, que gostava de malhar nas paralelas da praia do Diabo. Eu nadava muito bem, fui um dos pioneiros do surf no posto seis e no Arpoador usando um pranchão de madeira do pai do Elcio, um colega de praia e do Pedro II, no tempo que pra carregar uma prancha precisava de dois. Tinha ido pra fotografar o pessoal surfando, as ondas, o mar, o que era belo. Até hoje é costume mergulhar da pedra de lá, sobre a onda cheia no arpoador, é muito bom. Naquele dia o mar estava perfeito meio fraco, mas com esquerdas professoras. Gente jovem, gente mais velha, mas nem tanto old people como a que hoje povoa o Arpoador dias de semana. Eram tempos calmos, gente bonita, praia tranqüila, cheinha, mas não tanto. Eu registrava a moçada bonita,as curiosidades da época, o vendedor do mate, o biscoito globo e ariscava com uma cara de fotografo, azarrar as incautas gatinhas, que desde aquele tempo já sonhavam com a telinha.Era tempo de rayto de sol, tempo de deixar arder a pele branca que queria pegar uma cor.Em meio a tudo isso foquei um pessoal pulando da pedra, eram vários pulando , e voltando com a onda cheia pra cima e pulando novamente. Era dia de semana, pouca gente, mas com cara de gente de casa, assim tudo vendo notei um deles, como brincando pedindo ajuda, coisa de garoto sacana, perturbando os outros. Foquei, tinha um disparador automático que disparava seqüenciado a tele-objetiva Vivitar, acompanhei achando graça. O garoto afundava e voltava chamando, em um misto de surpresa e descrença, não previ a morte. Eu poderia ter tirado o garoto do mar, eu era um animal de forte, envolvido com as fotos, pensei que os que estavam com ele o tirariam se fosse verdade, o moleque morreu, logo depois veio a lancha do salva- mar e quando vi, tiravam o corpo. Eu vi tudo, fotografei tudo e não fiz nada, com condição de ter feito, estava acostumado a tirar gente do mar. Fui pra casa encontrei o Elcio revelamos as fotos e ai, guardei minha máquina por mais de vinte anos. Tinha um cara também olhando,acompanhou tudo, também não mergulhou pra salvar, mas me disse: ai malandro ganhou dia hoje, essa foto vai pro jornal, vai ganhar uma grana, assim não fui jornalista!
r.e.castro. 15/03/2008.

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